Adolescentes são apreendidas no PR por aliciar colegas a fazerem vídeos de automutilação para plataforma da internet

22/09/2025

Polícia investiga o caso para identificar líderes do esquema, que funcionava dentro de plataforma digital. Segundo investigação, alguns vídeos foram gravados dentro de um colégio estadual. Secretaria de Educação afirma que tomou todos os procedimentos cabíveis ao saber da situação.

Duas adolescentes foram detidas em Guamiranga, na região central do Paraná, suspeitas de aliciarem colegas de escola para elas fazerem vídeos íntimos e de automutilação na plataforma "Discord". O site permite que os usuários conversem por meio de mensagens de texto, voz e vídeo.

De acordo com o delegado Mikail Moss Horodecki, o esquema era liderado por usuários da plataforma que ainda não foram identificados. Um deles iniciou um "namoro virtual" com uma das meninas - e ela, juntamente à outra adolescente, começou a contatar outras menores, explica ele.

Para convencer as vítimas, eram oferecidos valores em dinheiro e bônus na plataforma em troca das imagens. No entanto, depois as vítimas recebiam ameaças de que, se não continuassem a obedecer às ordens dos líderes do grupo, teriam os vídeos expostos aos seus pais, familiares e amigos.

As duas suspeitas foram apreendidas nesta quinta-feira (18).

Todas as envolvidas têm entre 15 e 16 anos, e as investigações apontam que pelo menos cinco meninas foram alvo do esquema criminoso.

"Pelo menos três adolescentes foram vítimas do crime e outras duas chegaram a receber a proposta inicial, mas recusaram", detalha o delegado.

De acordo com a polícia, alguns vídeos chegaram a ser gravados em um colégio estadual onde as vítimas e as suspeitas estudam.

A imprensa optou por não divulgar o nome do colégio para preservar as identidades das adolescentes, e tenta identificar os advogados que representam as apreendidas.

Em nota, a Secretaria de Estado da Educação (Seed-PR) disse que, ao suspeitar de "comportamento inadequado" dentro da instituição, a direção escolar acionou imediatamente o Núcleo Regional de Educação de Irati, os responsáveis por estudantes envolvidos, o Batalhão de Patrulha Escolar e o Conselho Tutelar.

"Uma investigação interna também foi iniciada por meio da Ouvidoria. O caso corre em segredo de justiça. A direção escolar informa que foram adotados todos os procedimentos cabíveis diante da situação, e a equipe pedagógica colabora com as equipes de segurança pública", complementa a Seed-PR.

A Polícia Civil também cumpriu mandados de busca e apreendeu quatro aparelhos celulares, um canivete, lâminas e uma máscara — que, segundo o delegado, foi enviada pelos líderes do esquema para as adolescentes usarem nos vídeos.

"As adolescentes foram apreendidas com a finalidade de resguardar a ordem pública, uma vez que suas famílias demonstraram incapacidade de impor meios de correção e disciplina, poder inerente aos pais até o atingimento da maioridade", avalia o delegado.

As suspeitas foram encaminhadas ao Centro de Socioeducação (Cense) de Curitiba e agora a polícia trabalha para identificar os usuários do Discord que contataram as adolescentes e outras possíveis vítimas.

Segundo o delegado, as adolescentes nunca tiveram contato pessoal, por chamada de vídeo ou de voz com os líderes do grupo, que usavam codinomes para não revelarem as próprias identidades.

Adolescentes detidas acabaram se tornando vítimas do esquema, diz delegado

O delegado afirma que, em depoimento, uma das detidas ficou em silêncio e a outra alegou ser vítima do esquema. No entanto, as investigações apontam que ambas aliciavam as colegas, diz ele.

As duas adolescentes começaram a fazer os vídeos e a contatar as vítimas após serem convencidas pelos líderes do grupo. Elas também passaram a ser ameaçadas após terem enviado os vídeos, explica o delegado Mikail Moss Horodecki.

Por isso, segundo o delegado, na investigação dos outros envolvidos, elas são tratadas como vítimas. Já na investigação sobre o aliciamento das outras adolescentes, elas são tratadas como suspeitas.

Automutilação no colégio

As investigações iniciaram há cerca de dois meses, após vítimas serem flagradas se automutilando no colégio estadual de Guamiranga.

"Três garotas chegaram a fazer cortes no corpo simbolizando a cruz suástica [símbolo do nazismo] para agradar os administradores [do esquema criminoso]", afirma o delegado.

Por isso, as adolescentes detidas estão sendo investigadas pelos atos infracionais análogos aos crimes de aliciar adolescente para produzir material pornográfico, e de apologia ao nazismo.

Denúncias

A Polícia Civil solicita a colaboração da população com informações que auxiliem em investigações e na localização de investigados e foragidos da Justiça.

As denúncias podem ser feitas de forma anônima, pelos números 197 (da Polícia Civil) ou 181 (do Disque-Denúncia).

Na região de Guamiranga, os policiais também atendem pelo WhatsApp (42) 3436-1177.