'Boate Azul': como a morte de um papa inspirou criação no Paraná de um dos maiores 'modões' do Brasil

Música, que foi censurada no período da ditadura militar, foi regravada mais de mil vezes. Escrita em Apucarana, no norte do Paraná, ela faz sucesso até hoje.
Em 3 de junho de 1963, há exatamente 62 anos, a morte do papa João XXIII levou ao cancelamento de um show em Apucarana, no norte do Paraná. O que muitos podem não sabem é que a decisão, um sinal de respeito à memória do papa, foi inspiração para o surgimento de um dos "modões" mais conhecidos do sertanejo: a Boate Azul.

A canção, gravada originalmente pelo trio Amantes do Luar, faz sucesso até hoje nas vozes de muitos famosos. A composição, feita na mesma noite da morte do papa, é de Benedito Seviero, com melodia de Aparecido Tomás de Oliveira.
Em 2012, a origem da música foi contada por Seviero em uma entrevista ao programa Caminhos da Roça, da EPTV de Ribeirão Preto, em São Paulo, afiliada da TV Globo.
Seviero, que faleceu em 2016, revelou que faria uma apresentação na chamada "Boate Azul" no dia em que a morte do papa aconteceu.

"Acontece que o papa morreu naquela noite, então não teve o show, foi cancelado. A turma que estava esperando o show estava tudo de fogo lá. E ir embora, sair de que jeito, né? Foi aí que eu fiz a música que chama-se Boate Azul", contou.
A música, segundo o compositor, foi escrita para ser cantada pela dupla Zilo e Zalo, mas só foi gravada anos depois, na década de 1980, pelo trio Amantes do Luar, após o fim da ditadura militar. Isso porque, durante o regime, a letra melancólica e ambientada em uma casa noturna incomodou e foi censurada, segundo relatos históricos e do próprio compositor.
"Ela foi cancelada, né? Não deixaram gravar. Ela foi foi proibida e só fui gravar em 1980. Dezessete anos depois. Aí gravei primeiro com um trio de São José do Rio Preto, chamados Amante do Luar. Depois gravei com o Manoelito Nunes e Nazaré, uma dupla de Piracicaba", relembrou Seviero.
Em 1985, a dupla Joaquim & Manuel também gravou a música, que enfim se popularizou nacionalmente, fazendo com que dupla ganhasse uma premiação (disco de ouro), sendo considerada um dos maiores clássicos sertanejos.
Sucesso que ultrapassou gerações
O modão foi imortalizado nas vozes de duplas sertanejas de todas as gerações e é presença certa em bares, festas e karaokês.
Já foi regravada mais de mil vezes, em cerca de oitenta idiomas, em países da América Latina, América do Norte e Europa, segundo dados do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.
No Brasil, nomes como Bruno & Marrone, César Menotti & Fabiano, Reginaldo Rossi e até artistas do brega e do forró deram nova vida à canção.
'Unanimidade nacional'
Para o músico e humorista paranaense Paulo Pezak, o Paulinho da banda Santo Fole, "Boate Azul" é uma unanimidade nacional, seja nos bailes ou nos palcos onde se apresenta com show de humor.
"Todo músico já passou por ela. Conheço até uma casa noturna que faliu por proibir a música, porque a concorrente se chamava Boate Azul", contou.
A canção, para Paulinho, une os amantes de rock, eletrônico, funk, de vários gêneros musicais. E ainda completa dizendo que, se o artista tocar uma vez só, "não adianta".
"Tem o pedido do cara que tá sóbrio, depois o mesmo cara pede de novo bêbado. Sempre toca duas vezes na noite", riu.
