Documento aponta que arcebispo sabia de denúncia feita há quase 15 anos contra padre preso por estupro de vulnerável

Seminarista que denunciou padre por tentativa de abuso sexual assinou o documento em 2011, dando o caso como "encerrado", sem que a polícia fosse acionada. Polícia Civil registrou seis vítimas que denunciaram o padre por abusos e analisa outros dois relatos.

Um documento assinado em 2011 por um seminarista que denunciou o padre Genivaldo Oliveira dos Santos aos superiores da igreja por tentativa de abuso sexual indica que o então arcebispo de Cascavel, Dom Mauro Aparecido dos Santos, tinha conhecimento do caso e não o relatou à polícia. O documento foi incluído como prova no inquérito que investiga o padre, preso no domingo (24) por estupro de vulnerável.
A vítima hoje também é padre e contou em entrevista à RPC, afiliada da TV Globo no Paraná, que pensou em procurar a polícia, mas desistiu por medo de não ser ordenado sacerdote por causa da denúncia. Ele decidiu, então, redigir o documento e entregá-lo pessoalmente ao arcebispo.
"Era minha palavra contra a dele [...] E a partir daquele momento, eu fiz um documento dizendo que da minha parte estaria tudo resolvido e fiz acompanhamento psicológico", conta a vítima.
No texto, a vítima escreveu: "De minha parte dou por encerrado o caso ocorrido com o seminarista Genivaldo Oliveira dos Santos".
O arcebispo Dom Mauro Aparecido dos Santos atuou em Cascavel de 2008 até o seu falecimento, em 2021.
O documento também cita os nomes de dois reitores do seminário (os padres Emerson Detoni e Antonio Ailson Aurélio) e de uma psicóloga, além do arcebispo.
O g1 tentou contato com as pessoas citadas, por meio da Cúria Metropolitana, que respondeu que os reitores citados não fazem mais parte da Arquidiocese de Cascavel. O g1 tenta localizar os padres e a psicóloga.
A defesa do padre Genivaldo Oliveira dos Santos disse, por meio de nota, que vai se pronunciar no processo e que acompanha a investigação com o intuito de colaboração total com as investigações, "de modo que se busque a verdade real dos fatos, e não aquela exteriorizada pela digna autoridade policial em entrevista nos meios de comunicação".
Segundo a vítima, foi apenas no ano passado, quando soube da existência de outras denúncias, que ela decidiu relatar o caso e colaborar com as investigações.
O atual arcebispo de Cascavel, Dom José Mário Scalon Angonese, disse em comunicado que o padre denunciado foi suspenso assim que a denúncia chegou oficialmente à diocese, no dia 14 de agosto.
"Um processo de investigação já está em andamento. Temos um prazo de 90 dias na diocese e depois encaminhamos para a Congregação da Doutrina da Fé, no Vaticano. Se confirmado que houve pedofilia, a decisão de Roma tem sido clara: a demissão do estado clerical. Ele deixará de ser padre", afirmou.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil também foi contatada, mas não se manifestou até a última atualização desta reportagem.
