Empresa planeja lançar 4 mil espelhos no espaço por energia solar

24/10/2025

Projeto financiado pela Força Aérea dos EUA pretende lançar refletores em órbita para projetar luz solar durante a noite

A start-up Reflect Orbital, sediada na Califórnia, nos Estados Unidos, pediu licença à Comissão Federal de Comunicações (FCC) para lançar em abril de 2026 um satélite com espelho capaz de refletir luz solar sobre áreas da Terra durante a noite.

O experimento será o primeiro passo de um projeto que prevê a criação de uma constelação de mais de 4 mil satélites capazes de refletir luz solar para a Terra e ampliar a produção de energia solar durante as horas de pouca luminosidade.

O plano, que recebeu US$ 1,25 milhão (cerca de R$ 6,7 milhões) da Força Aérea dos Estados Unidos, já atraiu mais de 250 mil manifestações de interesse comercial, segundo a empresa e planeja lançar o satélite EARENDIL-1 será equipado com um espelho de 18 por 18 metros na fase de teste.

Segundo a Reflect Orbital, os satélites orbitariam a Terra em uma trajetória síncrona ao Sol, acompanhando a linha que divide o dia da noite. A proposta é permitir que usinas solares mantenham a geração de energia mesmo após o pôr do sol e antes do amanhecer, reduzindo a necessidade de armazenamento em baterias.

A companhia afirma que a tecnologia também poderia iluminar plantações, substituir parte da iluminação urbana e ajudar em regiões atingidas por desastres naturais.

" Nosso serviço é altamente localizado ", disse um porta-voz da empresa ao portal Space.com. " Cada reflexão cobre uma área definida de cinco quilômetros por um período limitado, sem iluminação contínua ou generalizada ." Segundo ele, durante o teste de 2026, observadores verão " um brilho semelhante ao da lua, movendo-se no céu ", enquanto a área iluminada no solo terá luz suave e temporária.

Alerta de astrônomos e ambientalistas

O projeto, no entanto, tem gerado forte reação da comunidade científica. Astrônomos e especialistas em biodiversidade afirmam que os espelhos espaciais podem agravar a poluição luminosa, interferindo nas observações astronômicas e no comportamento de espécies noturnas.

" O feixe refletido por esses satélites é quatro vezes mais brilhante que a lua cheia ", explicou John Berentine, astrônomo do observatório Silverado Hills, no Arizona à Space.com. " Isso afetará a vida selvagem nas áreas diretamente iluminadas e, pela dispersão atmosférica, também as regiões ao redor ."

Robert Massey, diretor-executivo adjunto da Royal Astronomical Society do Reino Unido, classificou o projeto como preocupante. " O objetivo central é iluminar o céu e estender o dia — e, do ponto de vista astronômico, isso é catastrófico ", afirmou em entrevista à Space.com.

Um grupo de pesquisadores, em nota publicada pela revista Nature Astronomy, alerta que " qualquer fonte artificial de luz em larga escala no céu noturno pode causar impactos graves e duradouros ".

Ambientalistas destacam que o aumento da luz artificial vem alterando o equilíbrio entre o dia e a noite, essencial para os ciclos biológicos. " A poluição luminosa interfere nos ritmos circadianos, na fisiologia e nos padrões de comportamento de inúmeras espécies ", disse David Smith, gerente da organização BugLife, dedicada à preservação de invertebrados, à Space.com.

Pesquisas mostram que o brilho artificial do planeta cresce cerca de 10% ao ano, reduzindo a visibilidade das estrelas e afetando o sono humano.

Empresa promete avaliação ambiental

A Reflect Orbital afirma que pretende realizar uma avaliação de impacto ambiental antes de expandir a constelação e diz estar aberta à colaboração com especialistas para " compreender as sensibilidades ecológicas em cada local de serviço ".

Apesar das críticas, a empresa sustenta que o projeto pode representar uma nova fronteira para o uso da energia solar no planeta.