Influencer é condenado por manter escrava por 30 anos em Campinas

Vítima trabalhava 15 horas por dia, chegou a dormir em maca do consultório do patrão e não recebia salário

O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas, cidade no interior de São Paulo, condenou em 1ª instância o influencer de medicina chinesa Peter Liu, que acumula mais de 3 milhões de seguidores no Youtube e quase 1 milhão no Instagram, por situação análoga à escravidão.
A vítima (que terá o nome preservado) trabalhou por 30 anos nas tarefas domésticas, nos afazeres da família e na clínica do influenciador, por mais de 15h diárias, sem receber salário e vivia dos trocos que sobravam das compras da casa.
Segundo o processo, a mulher, que hoje tem 59 anos, tinha uma rotina exaustiva de trabalho, que começava às 7h e só parava às 22h, momento em que era permitido que ela se alimentasse.
Questionado pelo Metrópoles, Peter Liu disse que a vítima é funcionária da sua ex-esposa e que não tem contato com ela há mais de 20 anos. No entanto, fotos anexadas ao processo em que ele foi condenado por manter a empregada em trabalho análogo à escravidão mostram Liu ao lado da filha, do genro e da funcionária em um sorveteria, em São José do Rio Preto (SP), em agosto de 2018.
A história da vítima com a família
Em 1992, Peter Liu e a esposa, Jane Liu, vieram da China para o Brasil e se estabeleceram em Recife (PE). Na época, uma amiga em comum apresentou a funcionária para tomar conta do filho mais velho do casal.
Nos primeiros seis meses como babá, ela disse que recebeu um salário mínimo por mês, mas não houve registro profissional. A família chinesa teria prometido que a situação trabalhista seria regularizada assim que eles fossem naturalizados brasileiros.
Segundo o relato da vítima, depois dos primeiros meses, as promessas não se realizaram, e a funcionária foi convidada por Jane, mãe dos filhos de Liu, a se mudar para São Paulo. A família foi para Campinas, no interior paulista, escapando de uma autuação por clínica irregular em Recife.
Quando chegou a Campinas, a empregada doméstica, que é semianalfabeta, parou de receber salário. Ela é de Belo Jardim, cidade de 83 mil habitantes no interior de Pernambuco, tem 59 anos e viveu em condição análoga à escravidão com a família Liu desde os 27 anos.
Segundo o processo, ela viveu nessa situação até 2022, quando, enfim, tomou ciência dos supostos abusos trabalhistas e pediu o pagamento do salário. Diante disso, teria sido ameaçada de morte por Jane, que também teria feito ameaças à família da empregada.
Dormia na maca do consultório
Em alguns momentos, de acordo com o processo, a mulher tinha que dormir na maca do consultório de medicina chinesa que funcionava na casa da família. Em outros períodos, sua cama estava instalada em um depósito de materiais.
Um relato da filha de Peter, Anni, que rompeu com o pai, aponta que a empregada chegou a ser picada por um animal peçonhento na casa da família, mas não recebeu cuidados médicos.
Além dos afazeres domésticos, ela foi introduzida a conceitos básicos das terapias orientais e tinha de preparar pacientes da clínica, onde também atuava como secretária.
Além disso, ao longo dos 30 anos, o único dinheiro recebido pela vítima eram trocados que ela recebia de compras que fazia para os Liu.
Funcionária vive com a filha do casal condenado por escravizá-la


