Morre, aos 60 anos, o cientista paranaense Marco Aurélio Krieger, vice-presidente da Fiocruz

29/04/2025

Morreu nesta segunda-feira (28) o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Aurélio Krieger. Ele estava no cargo desde 2017. Krieger faria 61 anos no próximo domingo (4) e lutava contra um câncer. Ainda não há informações sobre o velório.

Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1987, tendo mestrado (1989) e doutorado (1997) em Ciências Biológicas (Biofísica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Krieger foi diretor-adjunto de Desenvolvimento Tecnológico, Prototipagem e Produção do Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz Paraná), coordenador do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e coordenador-técnico da Unidade de Produção da Fiocruz para Diagnóstico de Ácido Nucleico. Ainda bem jovem, ele foi muito importante na implantação da Fiocruz Paraná e na aliança com o IBMP, contribuindo de forma definitiva para a construção de unidade tecno-científica da Fundação naquele estado. Foi autor de várias publicações, incluindo seis patentes.

Marco Aurélio Krieger era porta-voz das vacinas na pandemia

Referência em temas como imunização e vacinas, Krieger foi um dos cientistas que dominaram boa parte da cobertura jornalística sobre a pandemia, em especial sobre a liberação, pela Anvisa, do uso emergencial das duas vacinas – a da Fiocruz e a do Butantan – contra a Covid-19. Na época, ele aparecia com frequência nas emissoras de TV e deu repetidas entrevistas à imprensa sobre a eficácia da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford, em parceria com a AstraZeneca e a Fiocruz, desempenhando um papel importante no combate ao negacionismo científico e ao movimento antivacinas. Krieger também teve uma função relevante na condução do Comitê de Vacinas da Fiocruz.

Comunicador nato, em 2021 Krieger representou a Fiocruz na reunião técnica organizada pela Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 da Câmara dos Deputados. Na ocasião ele traçou um panorama de todo o trabalho realizado pela Fundação desde a prospecção tecnológica de vacinas candidatas, no início da pandemia. Comentou as peculiaridades do projeto e sua complexidade técnica, jurídica e regulatória, destacando sua realização em tempo recorde.

Krieger era um entusiasta da inovação tecnológica e estava sempre empenhado em incorporar novas vacinas, fármacos e produtos ao SUS. Como ele sempre costumava destacar, "é importante criarmos um ambiente que favoreça o desenvolvimento de projetos de inovação tecnológica e incentivar o caráter empreendedor dos pesquisadores". Em toda a sua trajetória ele se dedicou a projetos que pudessem ampliar o acesso da população a melhores vacinas e tratamentos pelo SUS e foi um defensor incansável da tecnologia para o bem-estar e a saúde da população brasileira.

Papel crucial no Inova Fiocruz

O pesquisador teve um papel crucial à frente dos editais do programa Inova Fiocruz. Foi na gestão dele como vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde que a Fiocruz tornou mais robusto o fomento a pesquisas inovadoras e estratégicas para a saúde pública. No escopo do Inova, lançou vários editais para pesquisa em Covid-19, incluindo um voltado para qualquer pesquisador (mesmo de fora da Fiocruz) desenvolver projetos que beneficiassem, particularmente, as pessoas mais vulneráveis. Incansável e sempre muito motivado, Krieger trabalhou até seus últimos dias no projeto de desenvolvimento da plataforma de mRNA. Também foi o responsável em trazer o cart-cell para a Fiocruz e via com grande entusiasmo o potencial dessa tecnologia para o tratamento de câncer e outras doenças raras pelo SUS.

O cargo de vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz e a paixão pelas novas tecnologias o levaram a representar a Fundação em diversos fóruns internacionais. Em 2024, ao visitar a Malásia para uma reunião da Aliança Dengue, participou de diversas atividades em que debateu possibilidades de cooperação para a vacina de mRNA e inovação em saúde. Ele também era favorável a uma organização regional entre países do Mercosul, utilizando o modelo do Complexo Econômico Industrial da Saúde do Brasil, para induzir e fomentar a produção regional, o que reduziria a dependência externa de produtos estratégicos para a saúde.

Também em 2024 ele esteve na China, a convite do Shanghai International Life Science Innovation Campus, para apresentar projetos da Fiocruz e conhecer empresas produtoras de vacinas e terapias avançadas. Entre as terapias avançadas, Krieger destacava como mais promissoras aquelas baseadas no conceito da imuno-oncologia, quer seja na utilização de anticorpos monoclonais, que possam potencializar a resposta imunológica para reconhecer células malignas, ou em metodologias que programam o sistema imunológico para reconhecer os marcadores associados ao câncer e assim destruir essas células. Isso pode ser feito pela indução da expressão dos receptores que vão reconhecer os marcadores cancerígenos nas células de defesa.

Ao assinar um Acordo de Aliança Estratégica que amplia e fortalece o relacionamento da Fiocruz com a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), em 2023, Krieger disse que "a pandemia de Covid-19 mostrou a importância da contribuição local no enfrentamento dos problemas que existem na região. Fizemos isso com a doença de Chagas. A história da Fiocruz mostra as contribuições das ciências brasileira e latino-americana no enfrentamento de doenças que eram problemas na região. É esse espírito que queremos resgatar", disse Krieger, que fez um retrospecto do papel da Fiocruz frente ao enfrentamento das arboviroses ao longo da sua história e lembrou da atuação da instituição no combate à febre amarela.

Nesse campo das arboviroses, o IBMP, instituído por parceria entre a Fiocruz e o governo do Paraná, obteve em 2019, da Anvisa, o registro do teste molecular ZDC (zika, dengue e chikungunya). Krieger, que acompanhou o desenvolvimento do teste desde as primeiras fases e era um entusiasta do projeto, disse na época que a ferramenta "é um avanço importante para enfrentar o desafio de buscar um diagnóstico mais preciso para as arboviroses. O uso de métodos moleculares é uma das principais ferramentas para o diagnóstico devido à alta sensibilidade e à especificidade, além de ter grande importância nos estudos epidemiológicos destinados a ações de vigilância e controle dessas doenças".

Marco Aurélio Krieger era filho do geneticista curitibano Henrique Krieger

Sempre muito didático, Marco Aurélio Krieger trazia no DNA as marcas da ciência. Seu pai foi o geneticista curitibano e professor aposentado da UnB Henrique Krieger. Por causa do pai, que fez doutorado nos Estados Unidos, ele nasceu naquele país. A mãe, Ester Proveler, era irmã de Fani Lerner, esposa do célebre urbanista Jaime Lerner, que foi governador do Paraná e prefeito de Curitiba.

Pai dedicado de dois filhos e avô amoroso de duas netas, Krieger tinha um orgulho enorme da família que formou com a esposa, Sirlines Krieger. E, quando jovem, ele mantinha um hobby peculiar: gostava de cultivar a terra e produzir hortifrutis orgânicos em uma chácara da família.