Palácio de madeira com mais de 100 anos de história fica escondido no meio da floresta no Paraná

A estrutura do Palácio do Pinho, localizado em Irati, foi inspirada nas casas da Inglaterra do século XVIII

Na Floresta Nacional de Irati, na região Central do Paraná, uma construção chama atenção. Cercado por mata nativa e distante dos grandes centros urbanos, o Palácio do Pinho surge como um verdadeiro castelo de madeira cravado na floresta, carregando consigo memórias de riqueza, poder econômico e do início da industrialização da região.
Construído inteiramente em madeira, o casarão guarda uma ligação direta com a exploração florestal que impulsionou o desenvolvimento econômico do interior do estado no início do século XX.


A serraria que deu origem ao "castelo"
Antes de se tornar um palácio residencial, o local foi sede da Serraria Florestal Miranda, uma das mais importantes da região. Segundo registros históricos, a empresa chegou a empregar cerca de 800 funcionários, número expressivo para a época, e contava até mesmo com uma estação ferroviária particular, usada para escoar a produção de madeira.
A serraria teve papel fundamental no crescimento econômico da região Central do Paraná, atraindo trabalhadores, fomentando o comércio e ajudando a estruturar a ocupação do território. Foi nesse contexto de prosperidade que surgiu a ideia de erguer uma residência que simbolizasse o poder e o status do proprietário do empreendimento.
Quem foi o dono do Palácio do Pinho
O Palácio do Pinho foi construído por Alberico Xavier de Miranda, proprietário da serraria, para morar com a família. O casarão possui cerca de 500 metros quadrados de área construída.
A história da família Miranda também se conecta à política paranaense. O pai de Alberico chegou a ser prefeito de Curitiba, o que reforça a influência do clã em diferentes esferas da sociedade da época.
Arquitetura inglesa em plena floresta paranaense
Um dos aspectos mais impressionantes do Palácio do Pinho é sua arquitetura. A estrutura foi inspirada nas casas da Inglaterra do século XVIII, algo raro para uma construção em madeira no interior do Paraná. Essa influência aparece claramente no sistema construtivo das paredes, com estrutura embutida e paramentos internos e externos formados por tabuado estreito disposto horizontalmente.
Elementos tradicionais da arquitetura britânica e norte-americana também estão presentes, como o bow-window e os pórticos de entrada. O rigor simétrico da composição revela o classicismo que orientou o projeto, reforçado pelo uso de colunas jônicas no imponente pórtico principal.
Os jardins, planejados com touceiras organizadas e moldadas em formas geométricas como cones e esferas, complementavam o conjunto arquitetônico e ajudavam a criar uma atmosfera de sofisticação pouco comum para a região naquela época.
Um casarão grandioso feito inteiramente de madeira no Paraná
O Palácio do Pinho possui dois andares e um sótão, somando cerca de 40 cômodos. Todos os espaços foram construídos integralmente em madeira, incluindo estruturas internas e acabamentos. A casa contava com escritório, quartos com closet, ambientes amplos e uma organização interna que refletia padrões de moradia da elite.
Segundo informações do Mapa da Cultura, o imóvel foi mantido e utilizado como residência até o ano de 1970. Após esse período, o casarão deixou de ser habitado, mas seu valor histórico e arquitetônico passou a ser reconhecido oficialmente.
Devido às suas características arquitetônicas e à importância histórica, o Palácio do Pinho foi tombado como Patrimônio Histórico do Estado do Paraná em 30 de julho de 1990. O processo de tombamento foi realizado pelo Instituto Histórico e Artístico do Paraná.
Atualmente, a fazenda onde está localizado o casarão pertence ao Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Apesar do reconhecimento oficial, o imóvel não passou por revitalização recente e apresenta sinais de degradação que preocupam especialistas e admiradores do patrimônio histórico.
Campanha alerta para risco de desabamento
No Instagram, o perfil Florestalviva tem promovido uma mobilização para chamar atenção para o estado de conservação do Palácio do Pinho. A campanha, intitulada "SOS Casarão", alerta para o risco de desabamento da estrutura e busca sensibilizar autoridades e a sociedade sobre a urgência de ações de restauro.
A movimentação já reúne diversos apoiadores. A reportagem tenta contato com o Iapar para saber se há previsão de obras de restauro ou ações emergenciais e será atualizada assim que houver resposta oficial.


