Pessoas com deficiência visual voltam a ler com implante ocular

23/10/2025

Combinação entre película sobre os olhos e óculos tecnológicos tiveram resultados positivos em testes

Um microchip implantado no fundo dos olhos está ajudando pessoas com deficiência visual grave a recuperar parcialmente a visão, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira (20) no New England Journal of Medicine.

A pesquisa envolveu 32 pacientes com atrofia geográfica, uma forma avançada de degeneração da retina dos olhos, relacionada à idade. Após 12 meses do implante, 26 deles apresentaram melhora significativa na capacidade de ver detalhes finos, de acordo com os resultados do estudo.

Novo tratamento

O tratamento conduzido pelo estudo consiste na inserção de um minúsculo implante, "mais fino que um fio de cabelo", sob a retina. Os pacientes utilizam óculos especiais equipados com uma câmera de vídeo, que captura imagens e as projeta no implante por meio de luz infravermelha.

O sistema, chamado PRIMA, combina o implante e os óculos, funcionando como uma "retina fotovoltaica artificial". Foram avaliadas a visão dos participantes com e sem os óculos PRIMA após 6 e 12 meses do implante.

O principal objetivo era ver se houve melhora significativa da visão (pelo menos 0,2 ponto na escala usada pelos médicos) e registrar eventos adversos graves relacionados ao implante ou ao procedimento durante o primeiro ano.

Uma das pacientes, Sheila Irvine, de 70 anos, contou à BBC que foi "incrível" voltar a ler e fazer palavras cruzadas. "É lindo, maravilhoso. Isso me dá um prazer enorme. A tecnologia está avançando tão rápido que é incrível fazer parte disso" , disse.

Apesar dos avanços, o uso do dispositivo ainda exige esforço. Irvine precisa manter o queixo apoiado em um travesseiro para estabilizar a câmera, e o sistema consegue focar apenas em poucas letras por vez. Segundo a BBC, letras como "C" e "O" são difíceis de distinguir sem o modo de ampliação.

Atrofia geográfica

A atrofia geográfica afeta cerca de 5 milhões de pessoas no mundo e é a principal causa de cegueira em idosos. Até recentemente, não havia tratamento capaz de restaurar a capacidade de leitura ou reconhecimento facial, explicou o oftalmologista alemão Frank Holz, autor principal do estudo.

Segundo ele, o progresso até agora era limitado a medicamentos que apenas retardavam o avanço da doença.

Existem dois tipos de degeneração macular: a úmida, causada por vasos sanguíneos anormais sob a retina (com tratamentos já disponíveis há anos), e a seca, mais comum, que afina a mácula e forma pequenos depósitos de proteína na retina.

"Agora, com esse implante de apenas 2 milímetros, conseguimos restaurar parte da visão central de pacientes que já tinham perdido completamente essa área da retina" , afirmou Holz.

Estudo em fase experimental

Apesar do otimismo, especialistas alertam que o estudo ainda é pequeno e experimental. O PRIMA, desenvolvido pela empresa norte-americana Science Corporation, ainda não tem licença de uso comercial e só está disponível em testes clínicos.

Em nota, o fundador e CEO da companhia, Max Hodak, disse que o avanço "reforça o compromisso com tecnologias capazes de transformar vidas" .