Por que Flávio se lançou pré-candidato? E por que vai abrir mão?

08/12/2025

O que o senador fez, basicamente, foi vender a ação do capital político da família enquanto ela ainda vale alguma coisa na bolsa de apostas para 2026

Flávio Bolsonaro anunciou aos quatro cantos nesta sexta-feira (5) que, após uma visita ao pai na carceragem da Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, foi finalmente ungido o candidato da família à Presidência em 2026.

Parecia uma reviravolta e tanto em uma semana em que ele e os irmãos acabavam de ser humilhados pela madrasta, Michelle, durante um ato político em Fortaleza, onde ela desancou um acordo do PL local com o PSDB de Ciro Gomes.

O anúncio do senador provocou rebuliço, inclusive no mercado, já desconfiado de que sem Paulo Guedes e sem os militares escalados para conter o radicalismo do candidato (risos), Flávio poderia se tornar uma versão piorada e sem freio do pai.

Dois dias depois, o tom da conversa mudou. Em seu primeiro ato público, Flávio admitiu que pode não levar a aventura eleitoral até o fim. E que topava abrir mão da candidatura se o postulante apoiado pelo clã se comprometesse a tirar Jair Bolsonaro da cadeia.

Quem entende de movimento político sentiu o cheiro de golpe. Este nem bem disfarçado estava.

Ao que tudo indica, o anúncio de Flávio foi um ato de desespero diante da avalanche que se avizinha.

Flávio, assim com os irmãos, Eduardo e Carlos, andam sem moral com apoiadores do ex-presidente, a começar pelo agronegócio, desde que a família decidiu estimular retaliações econômicas dos Estados Unidos ao Brasil.

De olho em 2026, ele via a madrasta circular com mais desenvoltura entre grupos hoje órfãos de Bolsonaro. Os evangélicos são o maior exemplo. Se ela, por milagre, vencer a eleição, é mais fácil botar os meninos no colégio interno do que em algum ministério.

O outro lado da pista não é mais animador. Por lá quem vem acelerando é Tarcísio de Freitas. E o maior entusiasta da campanha dele à Presidência é Gilberto Kassab (PSD), raposa política que atua hoje como a eminência parda de seu governo. É também o fiador do acordo com o centrão para 2026. Para Flávio e os irmãos, nada pode ser mais assustador.

O próprio Kassab já disse que as chances de Tarcísio vencer o pleito serão maiores se ele deixar de lado o bolsonarismo e se comunicar com o eleitor de centro-direita não radicalizado. Tarcísio parece disposto a obedecer. Isso significa largar o ex-chefe e os filhos feridos na estrada.

Flávio sentiu que iria ficar pra trás e se antecipou, dizendo que era o pré-candidato do favorito do pai – que também não confia em Tarcísio.

A não ser que espera uma aglutinação improvável em torno de seu nome, a sacada não faz sentido.

O senador come poeira nas pesquisas de intenção de voto. Em um eventual segundo turno contra Lula (PT), perderia com 15 pontos de desvantagem, segundo o Datafolha. Ao mesmo tempo, se ficasse refém de outro candidato disposto a se "desbolsonarizar" para vencer a eleição, o preço do apoio cairia mais do que a Bolsa na sexta-feira. 

O jeito foi fingir que dali em diante o campo bolsonarista marcharia com ele. Alguns acreditaram. Mal fez o anúncio e ele já colocou o preço para abrir passagem. O preço é a anistia do pai – basicamente o que sobrou após a prisão do ex-presidente e o exílio auto-imposto por Eduardo.

O que ele fez, basicamente, foi vender a ação do capital político enquanto ela valia alguma coisa na bolsa de apostas para 2026.

Flávio entrou, assim, na campanha como um candidato nanico, que se lança na disputa para ampliar a vitrine dos cargos proporcionais e depois negociar apoio no segundo turno, quando aqueles 2% ou 3% de votos podem fazer a diferença para quem tem mais chance de vencer.

A pré-candidatura tinha cheiro, forma e pinta de balão de ensaio. Não durou um fim de semana.