Quase 30% dos paranaenses fizeram apostas online em 2025: ‘Tive que vender a casa para pagar dívida do jogo’

Levantamento aponta que 4 em cada 10 endividados no estado têm relação com jogos de apostas. Tratamento é oferecido pelo SUS.
Quase 30% dos paranaenses fizeram apostas online no primeiro semestre de 2025, segundo levantamento do Instituto de Protesto de Títulos do Paraná. Em alguns casos, como o de um homem ouvido pela RPC, afiliada da TV Globo, o vício levou à venda da própria casa para pagar as dívidas feitas pelos jogos. O levantamento mostra que 40% deles fizeram dívidas no mesmo período.
"Uma época em ganhei R$ 1.200 e cresceram os olhos, não só meu, mas dos meus amigos também. Eu achava que ali tinha uma forma fácil de ganhar dinheiro. Depois comecei a pesar a mão, investir valores mais altos e a perder dinheiro [...] até chegar ao ponto de eu emprestar dinheiro de agiota", diz um homem que prefere não se identificar.
Morador do Paraná, ele é casado, tem três filhos e trabalha há mais de 20 anos no mesmo emprego. Mesmo com uma vida estável, perdeu o controle.
"Deixava faltar coisa em casa para focar no jogo. Um dia eu tive coragem de contar para minha esposa. Ela ficou do meu lado, mas disse que eu precisava procurar ajuda. A gente teve que vender a nossa casa para pagar a dívida", afirma.
Segundo o levantamento, 32% dos apostadores usaram dinheiro que estava reservado para outras contas. Seis em cada dez paranaenses precisaram cortar gastos no período — principalmente com alimentação fora de casa e pedidos de entrega.
Jogo pode virar vício
O comportamento pode evoluir para um vício quando a pessoa perde o controle, mesmo percebendo as consequências negativas. O tratamento é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS).
"Na unidade você será avaliado para entender o grau de sofrimento e, a partir disso, é encaminhado. Mas, em geral, as pessoas só procuram ajuda quando o problema já está grande. Aí o encaminhamento é para um psiquiatra, psicólogo ou para o Centros de Atenção Psicossocial (Caps), porque exige uma intervenção mais complexa", explica Luciana Sydor, coordenadora de saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Segundo Sydor, uma das maiores barreiras para o tratamento é a dificuldade em reconhecer o problema. Muitas vezes, a própria família nem desconfia do vício.
Atualmente, o homem que perdeu a casa participa dos encontros do grupo terapêutico "Jogadores Anônimos", onde compartilha experiências com outras pessoas que também tentam abandonar o jogo.
"Tem gente de várias idades, classes sociais, religiões. O jogo tá pegando todo mundo", diz ele.
Para a coordenadora, a prevenção precisa começar cedo, inclusive na infância.
"As crianças também precisam ser monitoradas. É importante incluir outras formas de prazer na rotina delas, como esportes e leitura, para que não fiquem presas só ao jogo no celular. A gente já conhece as consequências dessa prática", alerta.
